Opinião: O bitcoin desespera apenas corruptos e incompetentes

Opinião: O bitcoin desespera apenas corruptos e incompetentes

By Hassan Maishera - min. de leitura
Atualizado 03 junho 2020
Imagem: bitcoingg.com
Imagem: bitcoingg.com

Em um prazo de tempo bastante curto, China e Rússia se manifestaram, ainda que temporariamente, contra as exchanges de criptomoedas que operam em seus países. Curiosamente, tais manifestações se deram durante um período de forte insegurança no que diz respeito aos preços do bitcoin ao redor do mundo. Enquanto muitos usuários sucumbem ao pânico e se tornam “mais um” enquanto a manada avança, outros mais precavidos olham tais anúncios com certo desprezo.

A China é uma das “grandes sedes” das mineradoras de bitcoin. Devido ao seu extenso território e condições favoráveis para a feitura de fazendas de mineração e imensa população disponível para compra e venda de moedas digitais, tornou-se referência mundial no assunto.

A Rússia mostrou-se bastante interessada no mercado de moedas digitais e, meses atrás, Vladimir Putin, atual presidente russo, encontrou-se brevemente com Vitalik Buterin, inventor da plataforma Ethereum, a fim de discutir sobre possíveis aplicações da plataforma dentro do governo.

A plataforma Waves, de origem russa, no momento da escrita deste artigo, possui uma das criptomoedas mais rápidas do mundo, alcançando a marca de aproximadamente 10 mil transações por segundo.

Dados os exemplos acima, fica bastante claro que ambos os países estão bastante atrelados à economia descentralizada e lucram através dela. Sendo assim, por que políticas tão protecionistas estão sendo utilizadas?

Recentemente, o governo chinês proibiu a operação das exchanges no país, dando 30 dias para sua completa dissolução. Semanas depois, o prazo foi prolongado por mais 30 dias e, agora, o governo chinês informa que as exchanges poderão voltar ao país, mediante regulamentação.

Nesta terça-feira (10/10), o primeiro vice-governador russo, Sergei Shvetsov, informou que as exchanges serão bloqueadas no país devido à sua natureza “duvidosa e volátil”.

Existe uma nítida tentativa de manipulação por parte dos governos russo e chinês na economia digital. Eles testam suas influências a fim de mover os preços para cima ou para baixo. Historicamente, são países acostumados a manipular fortemente a economia nacional.

Fazer parte da nova economia digital desafia e enfraquece a economia tradicional. Ainda utilizamos o dólar americano como moeda fiduciária dentro do mercado de criptocurrencies. Mas, por quanto tempo até sua completa independência dos norte-americanos? Como os governos poderão taxar o que eles não são capazes de controlar? De que forma seria possível sustentar o atual modelo organizacional, evitando seu colapso?

As respostas para essas perguntas, em teoria, são bastante fáceis: o mercado de criptomoedas é essencialmente baseado na confiança. Se você trabalha honestamente e oferece um serviço de qualidade, pessoas vão investir em você. Tentativas de fraude são fiscalizadas pela própria rede de usuários e reprimidas até se tornarem nada. O mesmo poderia vir a acontecer com o governo incompetente, corrupto, oportunista, apático. Não receberia amparo financeiro e, portanto, seria destruído por falta de base econômica para se sustentar. Outro modelo poderia ser instalado em seu lugar.

O bitcoin, assim como outras moedas digitais que saudavelmente disputam consigo o mercado, é o verdadeiro teste que a humanidade sempre quis de tentar provar que é possível mediar-se sem a intromissão de intermediários. Muitos apoiadores do bitcoin são completamente contra a existência de um governo, enquanto outros acreditam que há, sim, a necessidade de uma entidade governamental, porém menos influente na economia. Por que não pensar, talvez, no governo como simplesmente uma empresa que, se não cumprir suas metas mais básicas, poderá ser removida sumariamente do mapa, dando oportunidade a outro grupo de funcionários provarem seu valor?

O próprio bitcoin possui uma equipe seleta de desenvolvedores de sua tecnologia. Caso algum deles demonstre má-fé de qualquer natureza no que diz respeito ao desenvolvimento do Bitcoin Core, será convidado a se retirar. Nós, brasileiros, temos o direito, como contribuintes, de no mínimo pensar o óbvio: sem confiança no governo, que seja redesenhada sua equipe. E não adianta confiar que o ladrão não mais invadirá sua casa para roubá-lo, apenas porque você encarecidamente pediu a ele que não peque mais.

O mercado descentralizado de moedas digitais é a tentativa mais poderosa e legítima de buscarmos uma comunidade global de consenso, de verdadeiro livre-mercado, de apreço aos honestos e desprezo aos ímpios. Quanto à China e à Rússia, tentem não levá-las a sério.