Apesar de falhas, plataforma Ethereum atrai cada vez mais investidores

Apesar de falhas, plataforma Ethereum atrai cada vez mais investidores

By Benson Toti - min. de leitura
Atualizado 01 junho 2021

Com um crescente valor de mercado e uma gama de apoiadores famosos, a Ethereum vem se tornando, nos últimos meses, a próxima sensação no setor de moedas virtuais.

A Ethereum é uma plataforma de software aberta composta por uma moeda chamada ether, um livro-caixa público, ou “blockchain”, para registrar as transações e ferramentas para a construção dos chamados contratos inteligentes, que realizam pagamentos automaticamente quando seus termos são cumpridos. Qualquer um pode desenvolver novos aplicativos usando o código da plataforma.

De um modo mais ambicioso, os inventores e usuários da moeda estão se revoltando contra a crescente centralização da internet em grandes empresas, como o Google e o Facebook, e criando estruturas financeiras que podem operar sozinhas.

Mas, como aconteceu com sua prima mais velha, a bitcoin, a Ethereum está sujeita a ondas de especulação, escândalos e dúvidas sobre sua capacidade de chegar a ser algo mais que um projeto de nicho para desenvolvedores.

Na sexta-feira, uma “startup” chamada DAO, criada para financiar projetos da Ethereum, informou que foi roubada em cerca de US$ 55 milhões da moeda virtual quando um hacker reescreveu parte do código da startup e transferiu o dinheiro para uma conta privada. A cotação da Ethereum caiu cerca de 43% desde que o ataque foi revelado.

O valor da Ethereum havia saltado de cerca de US$ 0,70 em janeiro para mais de US$ 21 na sexta-feira. Depois das notícias sobre a invasão, a moeda teve forte queda e era negociada em torno de US$ 12,30 ontem, segundo a bolsa de moedas virtuais Kraken. A bitcoin, por outro lado, subiu cerca de 60% neste ano.

Para muitos, o mundo das moedas criptografadas é um nicho opaco ou um modismo de investimento. Mas a tecnologia em que essas moedas se baseiam — livros-caixa de transações abertos e imutáveis — pode transformar muitas formas de comércio para milhões de pessoas, especialmente nos setores financeiro e bancário.

A Ethereum explora o entusiasmo por essa tecnologia, ao tomar a rede descentralizada que sustenta a bitcoin e redirecioná-la para um uso mais amplo. A moeda funciona como um serviço de armazenamento de dados e hospedagem na internet, mas sem ser operado por uma única empresa, como o Amazon Web Services.

Em vez disso, os serviços da Ethereum operam numa rede descentralizada de computadores interconectados e distantes. A Microsoft Corp. deu um grande impulso à plataforma em outubro, quando integrou a Ethereum a seu produto de serviços para empresas, o Azure.

Presumindo que os problemas de segurança cibernética da nova tecnologia podem ser resolvidos, os benefícios da Ethereum podem incluir baixo custo, maior transparência e menos controle de governos ou de poderosas empresas privadas.

A Ethereum é uma criação de Vitalik Buterin, um russo-canadense de 22 anos que a inventou em 2013. Na época, o jovem cientista da computação havia abandonado a Universidade de Waterloo, na província canadense de Ontário, para ajudar a fundar a publicação “Bitcoin Magazine”.

O valor dos ativos financeiros de Buterin, cerca de 530 mil moedas “ether”, caiu de US$ 11 milhões antes do ataque da semana passada para em torno de US$ 6,4 milhões ontem.

Agora, ele está tentando restaurar a confiança, ressaltando que o hacker não atingiu a rede Ethereum diretamente, mas uma empresa dedicada a financiar projetos com ela. “O protocolo Ethereum está 100%” em ordem, disse ele num e-mail enviado na segunda-feira, embora reconhecesse que o incidente destaca os desafios ainda existentes para a construção de “padrões e ferramentas de nível mais alto” que tornem a plataforma segura.

Se a Ethereum irá superar a bitcoin um dia é tema de debate no mundo da tecnologia. Embora as duas moedas operem em redes de computadores descentralizadas, a bitcoin é desenhada com um objetivo: transações em dinheiro. A Ethereum foi criada para facilitar uma grande variedade de transações e contratos, de assistência médica até publicidade e viagens.

A bitcoin e a Ethereum têm funções diferentes, diz Tyler Winklevoss, gerente de uma bolsa de moedas digitais, a Gemini, que negocia as duas moedas.

“Vemos a bitcoin como uma [versão] melhor do ouro”, diz ele.

“Vemos a Ethereum como o maior computador virtual do mundo.”

Winklevoss e seu irmão Cameron — que ficaram famosos pela disputa com Mark Zuckerberg sobre a propriedade intelectual do Facebook — sempre foram defensores da bitcoin, que alguns consideram uma proteção contra a instabilidade financeira global. Os irmãos começaram a comprar a Ethereum neste ano.

Os tecnólogos consideram a Ethereum e outros projetos de “blockchains” mais transparentes, eficientes e seguros que as plataformas on-line existentes, enquanto críticos dizem que a tecnologia ainda não foi testada na sua maior parte e ainda tem um longo caminho antes de ser adotada amplamente.

Desde sua criação, a Ethereum tem atraído o interesse de empresas e investidores, entre eles a Microsoft, a Deloitte LLP e a cantora britânica Imogen Heap.

A DAO, sigla em inglês para Organização Autônoma Descentralizada, foi montada para ser um tipo de fundo de capital de risco para startups baseadas na Ethereum. Em maio, ela captou mais de US$ 150 milhões através de financiamento coletivo. A ideia era emitir “fichas” da DAO para os investidores, as quais permitiriam que eles votassem nas startups candidatas a receber financiamentos.

Na sexta-feira, um invasor não identificado aproveitou um bug no código aberto da DAO e conseguiu transferir cerca de US$ 55 milhões de ether para uma conta privada. Cerca de uma hora depois, a cotação das fichas da DAO despencou mais de 60%, levando a ether com elas. O fundo agora planeja “erradicar” as transações ruins atualizando o seu código, devolver o dinheiro aos acionistas e fechar as portas.

Via: The Wall Street Journal