O lado obscuro da confiança no dinheiro

O lado obscuro da confiança no dinheiro

By Melissa Eggersman - min. de leitura
Atualizado 02 junho 2020

Em seu aclamado livro “Uma breve história da humanidade Sapiens”, p. 194, Yuval Noah Harari diz que

“o dinheiro tem um lado ainda mais obscuro. Embora gere confiança universal entre estranhos, essa confiança não é investida em humanos, comunidades ou valores sagrados, mas no próprio dinheiro e nos sistemas impessoais que lhe servem de apoio. Não confiamos no estranho ou no vizinho – confiamos na moeda que possuem. Se suas moedas acabarem, acaba a nossa confiança. Ao mesmo tempo em que o dinheiro derruba as barragens da comunidade, religião e Estado, o mundo corre o risco de se tornar um grande mercado e um tanto cruel”.

Essas palavras a respeito do “dinheiro” soam um tanto pessimistas (ou realistas) e se aplicam perfeitamente ao universo da blockchain e do Bitcoin. Ainda que exista um lado revolucionário com potencial positivo imensa nas criptomoedas, também há elementos “obscuros”, inclusive para bastante  além do problema apontado por Harari.

Confiar ou não confiar? Eis a questão…

A questão da confiança está no centro da batalha iniciada pelo Bitcoin contra o sistema atual, que obriga as pessoas a confiar nas próprias entidades centralizadoras que agem em seu prejuízo e em benefício próprio. Entretanto, ao eliminar o elemento da confiança nas instituições para colocá-la no “código”, as criptomoedas estão fadadas potencialmente ao destino criticado pelo historiador.

Nessa visão, as criptomoedas podem distanciar ainda mais as pessoas e fazê-las colocar sua confiança em algoritmos em detrimento de umas nas outras. Isso é visto como algo negativo por Harari, ainda que creio que o debate esteja aberto para discutirmos se o autor está exagerando ou não em sua visão a respeito dos malefícios de um sistema onde não seja necessário confiar em ninguém. Naturalmente, teremos de discutir se a confiança no “código” (ou no “Bitcoin”, na “blockchain”, ou seja lá onde) não é confiança em pessoas que escrevem códigos, criam o Bitcoin e agem por meio de blockchains.

Há uma profunda necessidade de reflexão em torno das questões em torno desse assunto, de uma forma isenta de paixões ideológicas a favor de uma tecnologia ou contra ela. Precisamos lidar com as implicações possivelmente negativas daquilo que criamos e precisamos estar atentos a todas as implicações e desenvolvimentos.

Nem tudo que começa bem termina bem

Inicialmente, e possibilidade de poder transacionar de forma segura com quem não se confia, é excelente. Mas vislumbrar um mundo onde ninguém confie mais em ninguém não é exatamente o tipo de sociedade que se queira construir através da blockchain.

Mas podem me corrigir, se eu estiver errado.

Ezequiel Gomes

Guia do Bitcoin

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