‘’La Casa de Papel’’ e ‘’El Bitcoin’’- O que essas duas manias tem em comum?

‘’La Casa de Papel’’ e ‘’El Bitcoin’’- O que essas duas manias tem em comum?

By Melissa Eggersman - min. de leitura
Atualizado 10 junho 2021

Vamos discutir a relação entre duas febres mundiais: a série La Casa De Papel, e o polêmico Bitcoin. E você? de qual lado da moeda você está? 

Se você sobreviveu ao tumultuado ano de 2017 e está coletando os cacos neste início de 2018, certamente existem dois assuntos que enchem o seu Facebook, grupos de Whatsapp, noticiários e mesas de bar.

O primeiro é sobre a série espanhola ‘’La Casa De Papel’’, de Álex Pina. Ela estreou em 2 de maio de 2017, mas caiu no gosto popular após a sua inserção no catálogo da Netflix, em 25 de dezembro de 2017, no maior estilo ‘’assalto genial daqueles que você torce pros bandidos’’. A história rapidamente povoou não só as fantasias carnavalescas de Salvador Dalí, mas também gerou um cântico entoado pelas redes sociais de ‘’Cara, você tem que assistir La Casa de Papel!’’.

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A segunda euforia dos tempos em que vivemos é o Bitcoin, a moeda digital/commodity digital (ou peer to peer electronic cash system para os íntimos), de autoria misteriosa do pseudônimo Satoshi Nakamoto. Apareceu em meados de 2008 e começou a funcionar em 2009, dividindo o mundo entre evangelistas da tecnologia e zombadores do ‘’dinheiro de internet’’.

Certo dia, navegando pela querida locadora vermelha, Netflix, me deparo com a tal série. Influenciado pelos seus fervorosos apoiadores, resolvi dar uma chance. Eis então que algo me chamou atenção e como bitminion orgulhoso que sou, não poderia deixar de comentar.

A premissa da série do canal espanhol Antena 3 de 13 episódios (edição da Netflix, o original são 9 episódios com maior duração) é a seguinte: um misterioso e inteligente homem, que atende pelo nome de Professor (Álvaro Morte), recruta 8 pessoas problemáticas (que incorporam nomes de cidades para protegerem as suas identidades) para executar seu ambicioso plano de assaltar a Casa Da Moeda da Espanha. A particularidade do plano se dá pelo fato de que, segundo o próprio Professor, ninguém será roubado, os ladrões vão imprimir os seus próprios 2.4 bilhões de euros. E assim, se inicia um jogo de gato e rato contra a polícia para ganhar tempo e ser realizada cada etapa desse crime detalhado, e com um total de 67 reféns.

Depois dessa breve introdução, você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com o Bitcoin? A resposta é simples e escancarada, e caso esteja a antecipando, prometo não fazer de forma tediosa ou rebuscada demais. Então, vamos lá.

Primeiramente, devemos entender o que é Bitcoin. Esse texto não possui a pretensão de ser extensivamente técnico. Utilizaremos aqui os conceitos formulados por Fernando Ulrich e Andreas Antonopoulos, autores de ‘’Bitcoin: A moeda na era digital” (2014) e ‘’Mastering Bitcoin’’ (2016), respectivamente (ou seja, os caras que fazem o trabalho sujo de explicar tudo detalhadamente).

Segundo Fernando Ulrich (quem considero como o maior evangelista do Bitcoin no Brasil), o Bitcoin é uma tecnologia disruptiva e se caracteriza como um sistema de dinheiro eletrônico de ponto a ponto, de código aberto e descentralizado (esse último aspecto é fundamental a esse texto). Andreas Antonopoulos é mais generalista e conceitua Bitcoin também como um conjunto de conceitos e tecnologias, que formam a base de um ecossistema de dinheiro digital.

A invenção do nosso misterioso Satoshi (não se preocupe por não saber quem é, afinal, você não sabe quem inventou a maioria das coisas que usa) funciona por meio do Blockchain, que é uma espécie de grande ‘’livro-razão’’ altamente seguro, imutável, que agrupa todas as transações existentes, e distribuído. A tecnologia se utiliza de uma criptografia bastante robusta e um processo matemático complexo de ‘’mineração’’. Imagine essa mineração mais como um processo de validação e construção desse Blockchain, com uma troca de energia elétrica e poder computacional por remuneração pela realização desse trabalho, e assim novos bitcoins são criados. A oferta máxima de bitcoins a serem criados é de aproximadamente 21 milhões de unidades, e sem uma entidade central (será que você já ta começando a entender?). Eu sei que simplifiquei demais a tecnologia nessa explicação e ultrapassei alguns pontos. Para os leigos no assunto (afinal, todos somos) deixei uma série de links com as principais fontes de conhecimento sobre a tecnologia no final do texto.

Eu não entendo como Bitcoin funciona. E nesse ponto, estou com muito medo para perguntar

Atenção! A partir desse ponto, o texto pode conter spoilers.


A série ‘’La Casa de Papel’’ pode ser vista como uma grande alegoria. O assalto inteligente é narrado pelo ponto de vista de Tokyo (Úrsula Corberó), e desde o início percebe-se a preocupação do Professor (mentor do assalto) com o que as pessoas irão pensar. Para ele, é fundamental ter a opinião pública ao lado dos bandidos, sendo vistos como ‘’ os heróis de toda essa gente’’. A reação das pessoas deve ser ‘’ Que filhos da mãe! Queria ter pensado nisso antes.’’ Resumindo, os bandidos entram na Casa da Moeda da Espanha, fazem reféns, colocam máscaras divertidas e começam a brincadeira de fazer o próprio dinheiro. Eles se tornam os ‘’controladores’’ da Casa da Moeda ( e nesse ponto você deve estar começando a entender a metáfora disso tudo).

Então, em um momento de grande tensão da série, o Professor pronuncia as palavras que geraram o insight de percepção desse texto:

‘’ Você aprendeu a ver tudo em conceitos de bom ou ruim, mas isso o que estamos fazendo, sei que não se importaria se fosse feito por outros. No ano de 2011, o Banco Central Europeu fez do nada 171 bilhões de euros, do nada. Igual estamos fazendo, só que em grande estilo. Em 185 bilhões em 2012, 145 bilhões em 2013. Sabe onde foi parar todo esse dinheiro? Nos bancos, diretamente da fábrica para os mais ricos. Alguém disse que o Banco Central Europeu era um ladrão? Injeção de liquidez que chamaram. E eles tiraram do nada *o Professor pega uma nota de euro e rasga na frente de Raquel* O que é isso? Isso aqui é nada. Isso é papel. Estou fazendo uma injeção de liquidez.’’

O que o Professor critica é a forma como que o sistema monetário é construído atualmente, e demonstra a sua descrença nesse modelo, ou o jeito com que se é desenhado um grande aparato de benefícios e fundamentos duvidosos.

A ideia de que algo tão valioso para as sociedades modernas está ligado a um processo frágil de criação parece ser uma daquelas coisas com as quais você tenta não se esforçar em pensar para não entrar em pânico. Com certeza você já ouviu a sua avó falando que o tanto de papel moeda disponível numa economia é equivalente às reservas de ouro de um país, mas já tem muito tempo que as coisas não são assim ( mais precisamente, 15 de agosto de 1971). A nossa moeda é fiduciária, ou seja, ela é baseada em crenças e confiança. Confiança de que o Banco Central assegurará o poder dessa moeda, tendo responsabilidades acerca do uso forçado da mesma como meio de pagamento (ou seja, você vai comprar desde um pãozinho até uma lamborghini, pagar seus impostos e etc).

Em termos teóricos, a emissão de moeda segue relações com o nível produtivo de uma economia, relações de entrada e saída de capital estrangeiro; e nível de desenvolvimento de uma economia. Devemos lembrar também que a maioria do dinheiro usado atualmente é em forma de crédito, e não papel moeda em si. Na realidade, muitos dessas relações são mais subjetivas do que parecem, e se formos discutir em termos práticos a ‘’impressão de dinheiro’’ ( que na verdade é o aumento da base monetária)…bem…temos isso daqui:

O gráfico aqui exposto se refere ao balanço anual consolidado da Zona do Euro, inclui ativos e passivos dos bancos centrais nacionais do sistema Europeu (BCN) e do Banco Central Europeu detidos no final do ano face a terceiros. Este balanço é publicado em conjunto com as Contas Anuais e está incluído no Relatório Anual do BCE (segundo o site do Banco Central Europeu).

Obviamente, os dados representados no gráfico são compostos de outros fatores não só o aumento de base monetária (e outros aspectos mais técnicos, que fogem do escopo desse texto), mas é possível ter uma boa noção pela fala do Professor.

O Bitcoin possui uma escassez matemática, e não está sujeito a manipulações diretas de sua oferta. Pode-se considerar que o seu preço, no processo atual de desenvolvimento é sim determinado pela crença no sistema e pela especulação. Porém, não existe um ente controlador de política monetária por meio de quantos bitcoins são ou deixam de ser produzidos. O Bitcoin não se torna restrito às políticas de um país, ainda que possa sofrer regulamentações periféricas no mesmo. E principalmente, por mais paradoxal que pareça, a sua oferta talvez possa ser menos virtual do que o dinheiro que conhecemos hoje em dia.

A grande sacada crítica que pode ser levantada pela série é a reflexão acerca das construções sociais existentes acerca do sistema monetário. Somos criados de forma a acreditar que os bancos centrais sempre existiram e não contestamos, ou analisamos de perto, as relações de confiança e interesse existentes dentro dos mesmos, assim como as suas relações com os bancos e a política. Devemos nos atentar ao fato de que existem outras formas de se fazerem as coisas, e as criptomoedas oferecem essa possibilidade. Se essas formas serão melhores ou piores, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: agora existe uma alternativa.

Lucas Costa Correia (Mestrando em Administração (UFJF) com pesquisa em Bitcoin/Criptomoedas/Blockchain. Bacharel em Economia (UFJF). Trader)

Fonte: medium.com/

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