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Criptomoedas e “lastro”

Melissa Eggersman

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Acabei de receber na minha casa o mais novo item da minha coleção de cédulas e moedas: uma nota de 5 bilhões de dólares do Zimbábue. Ela é muito representativa no mundo, pois mostra o poder que um governo tem de destruir uma economia e dissolver todos os valores que as pessoas acreditam ter em suas contas.

Um dos principais argumentos das pessoas que são contra as critpomoedas é que elas não possuem lastro. Mas afinal, o lastro é tão importante assim?

O que é lastro?

Para quem não sabe, o lastro é baseado na confiança das riquezas de uma nação. Antigamente as moedas tinham o ouro como lastro. Ou seja, os bancos centrais que emitiam as notas deveriam ter uma quantidade equivalente em ouro em suas reservas como garantia. Se a pessoa quisesse, poderia trocar seus dólares em ouro, por exemplo.

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Por séculos o ouro atuou como moeda principal e lastro das moedas modernas

Esse panorama começou a mudar em 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, onde foi criado o Sistema Bretton Woods. Lá, 45 nações aliadas definiram que o dólar fosse estabelecido como a moeda oficial para transações internacionais e que o governo norte-americano garantiria que todo dólar impresso no mundo poderia ser convertido em ouro a um preço. Porém, em 1971, o então presidente, Richard Nixon, acabou com o acordo.

Dessa forma, o lastro deixou de ser algo físico, como o ouro, e passou a ser a “confiança” naquele governo/país. Dessa forma, US$ 1 vale isso – e pode ser revertido em algum bem comprado – porque as pessoas acreditam e confiam que ele tem valor, já que os Estados Unidos possuem bem e riquezas que garantem o seu valor e sua confiabilidade. O lastro, portanto, é “medido” pelo valor intrínseco que tal moeda representa.

E o lastro das criptomoedas?

Esse é o principal ponto defendido por quem acha que elas são bolhas ou pirâmides, onde os últimos a se livrarem de suas bitcoins vão arcar com o prejuízo, enquanto que os “espertões” que inflaram seu valor e venderam antes, saem no lucro.

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Uma moeda digital não tem um lastro tão tangível. As pessoas ainda estão tentando descobrir o que garante o valor delas. Na minha opinião, o valor intrínseco das moedas digitais, ou seja, o lastro delas, é muito baseado na tecnologia, na disrupção, na capacidade do blockchain e no poder que elas dão novamente às pessoas.

Porém, talvez o principal valor intrínseco de uma criptomoeda seja que os governos não são à prova de falhas. Supostamente os governos baseiam suas economias no valor intrínseco de suas riquezas. Mas nada impede que o representante de um Banco Central de um país imprima muito mais dinheiro que o necessário, gerando inflação, hiperinflação e o mais completo caos em um país. Quando isso acontece, a defesa do lastro desmorona por terra.

O fantasma da inflação

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Cédula de 1.000 Cruzeiros com carimbo de 1 Cruzeiro Novo. Quem viveu essa época lembra muito bem

Nós brasileiros sabemos muito bem o que é isso, infelizmente. Somos o “Pelé da Inflação” (termo designado por Alexandre Versignassi no livro “Crash – Uma breve história da economia”), pois o nosso país viveu cinco décadas de alta inflação e diversos cortes de zeros em nossas notas de Cruzeiros, Cruzados, Cruzeiros Novos e Cruzados Novos.
Felizmente, ao menos, nunca passamos por uma hiperinflação. O mundo já viu casos assustadores de hiperinflação, como o da Hungria, em 1946, considerado o pior de todos os tempos. Diariamente os preços aumentavam em 195% (a cada 15 horas eles eram dobrados).

Tivemos outros muito famosos, como o da Alemanha pós Primeira Guerra Mundial. Não foi tão grave quanto o da Hungria, já que os preços aumentavam “apenas” 20,9% ao dia, mas serviu como um dos catalisadores (entre muitos outros) a um sentimento de vingança e nacionalismo que culminaria na Segunda Guerra Mundial.

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Após a Primeira Guerra Mundial, o marco alemão se dissolveu e ficou praticamente sem valor

O Zimbábue, como representa a cédula do meu novo “presentinho” é outra demonstração do colapso de uma economia. Vemos também muito de perto o caso da Venezuela, onde as pessoas hoje em dia pesam seus maços de notas de bolívares para comprar coisas muito básicas (como um punhado de arroz), quando encontram à venda nos supermercados.

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Um “bilionário faminto” do Zimbábue

Para se ter uma ideia, a moeda do jogo World of Warcraft supostamente vale 7x mais que o bolívar. A conta é a seguinte: o WoW Token pode ser adquirido por 203,035 pedaços de ouro no jogo, item comprado com dinheiro real. Como o WoW Token custa 20 dólares, com 1 dólar você compra 10,152 pedaços de ouro. No “mundo real”, 1 dólar vale mais ou menos 68,9 mil bolívares, ou seja, 6,8 a menos.

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Comerciante venezuelano pesando os bolívares

É por isso que eu me pergunto sempre: o lastro é realmente tão importante?

Fonte: https://steemit.com/pt/@fabio.martins/analise-qual-o-lastro-das-critptomoedas

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Nota do editor: Pode-se dizer, em certo sentido, que o “lastro” das criptomoedas poderia ser definida como a energia usada em sua produção ou a matemática “por detrás” dos protocolos de cada projeto que garantem a escassez das moedas e suas propriedades em geral. Mas há quem simplesmente negue que as criptomoedas tenham lastro e não veja problema com isso, uma vez que hoje em dia as moedas nacionais também não têm lastro no modelo econômico atual.

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